Preços de Energia Baixos e Tarifas Altas... como explicar?
Vamos entender essa divergência entre preço e tarifa...
De forma geral, os consumidores buscam soluções para reduzir seus próprios custos e acabam optando, quando podem, pela migração ao mercado livre, pela conexão em alta tensão – ou à Rede Básica – pela autoprodução ou mesmo pela micro e minigeração distribuída (MMGD).
Como consequência, os custos dos encargos acabam se elevando, pois a base de pagadores dos encargos diminui, e as tarifas se elevam de forma exponencial, reforçando ainda mais a situação inicial e motivando novos movimentos migratórios, conforme ilustrado na figura abaixo, criando uma verdadeira “espiral da morte” das tarifas.
Entender o sinal tarifário é fundamental para qualquer negócio, especialmente para quem negocia energia no Mercado Varejista ou em Geração Distribuída.
A expansão da oferta de energia realizada de forma não orquestrada, bem como a ausência de modelos de negócio apropriados, podem ser constatadas nas obrigações de contratação de termoelétricas para operarem de forma inflexível, subsídios e repasse de riscos aos consumidores e mais uma infinidade de custos que tendem a crescer de forma exponencial nos próximos anos.
Como resultado, subsídios novos se somam a subsídios velhos, deixando as tarifas dos consumidores carregadas de encargos, fomentando escolhas individuais que determinam impactos sistêmicos e reforçam a espiral apresentada acima.
Atualmente, existe uma sobra estrutural de energia no Brasil que se estende até 2030.
A Volt, através de modelos baseados em ciência de dados e inteligência artificial, estima valores entre 18 GW e 27 GW, conforme se observa no gráfico ao lado.
A sobra estrutural de energia no Mercado Livre também possui perfil semelhante...
Hoje, pode-se dizer que as sobras de energia são o resultado de uma expansão da oferta para atender a consumidores existentes.
Além disso, cada tipo de consumidor tem um potencial diferente na promoção dessas sobras. Isso decorre dos incentivos que existem para cada um e que, basicamente, estão relacionados aos custos que deixam de arcar ao migrarem ao mercado livre, como se observa na figura ao lado.
É neste cenário que o consumidor vai tomando decisões e assim, algumas afirmações podem ser estabelecidas, com base na experiência de mercado dos agentes:
· Se os benefícios econômicos com a migração ao ACL forem grandes, o consumidor cativo vai migrar para o ACL.
· Se os benefícios econômicos com a autoprodução forem muito superiores aos benefícios com a migração ao ACL, o consumidor cativo vai se tornar autoprodutor.
· Se os benefícios econômicos com a autoprodução forem muito superiores aos benefícios com o ACL, os próprios consumidores livres vão se tornar autoprodutores.
· Se os benefícios econômicos com a MMGD forem grandes, o consumidor vai instalar seus próprios painéis ou se associar a uma fazenda solar.
· Se os consumidores forem muito pequenos, a migração ao mercado livre ocorrerá em ritmo inferior à migração observada no passado.
Com as sobras, o preço da energia no Mercado Livre deve continuar baixo nos próximos anos.
Por outro lado, as tarifas do Mercado Regulado tendem a crescer acima da inflação.
Nesse contexto, prever o que vai ocorrer com a tarifa das diferentes distribuidoras representa um desafio enorme, pois a falta de razoabilidade econômica determina alterações não lineares em várias componentes tarifárias, com impactos diferentes para consumidores do mercado regulado e do mercado livre.
A Volt realiza as previsões das 26 maiores distribuidoras do país e conforme se observa no gráfico abaixo, esse crescimento não é uniforme em todo o país:
Reverter este ciclo não é tarefa simples, pois depende de ações coordenadas entre diversas instituições, envolvendo Ministérios, Agência reguladora, Governo e Congresso.
Contudo, as ações deverão passar por, no mínimo, quatro eixos de atuação:
· Redução de encargos e subsídios desnecessários;
· Ampliação do mercado de energia existente para melhor aproveitamento da capacidade de suprimento atual;
· Modernizar a estrutura de mercado como um todo;
· Aumentar a consistência entre planejamento e operação.
Vamos falar mais sobre este tema nos próximos Traduções Tarifárias, detalhando possíveis ações e discutir também as oportunidades que estão surgindo.
Traduzindo...
Existe uma sobra estrutural de energia no Brasil que se estende até 2030. Esse fato, somado a outros elementos, tem mantido os preços de energia baixos, o que deve se estender ainda pelos próximos anos.
Por outro lado, a tarifa no mercado regulado tem subido, incentivando ainda mais os movimentos de migração, uma vez que os consumidores buscam reduzir seus custos, criando uma espiral da morte que demandará ajustes no modelo e na governança do setor para que se promova uma abertura de mercado sustentável e benéfica a todos os consumidores.
A Volt apresentará nas próximas edições cada aspecto relacionado a essa importante questão para manter você sempre atualizado(a). Caso ainda tenha alguma dúvida, entre em contato com a gente; teremos prazer em falar contigo!
Um grande abraço e até o próximo Tradução Tarifária da Volt Robotics.
tarifa@voltrobotics.com.br